Escola rompe contrato com alunas que fizeram vídeo com ofensas racistas após jogo de vôlei em SC
20/11/2024
Estudante usa filtro preto no rosto enquanto se grava falando 'já são preto, ainda ficam fazendo macaquices?', enquanto ri ao lado de amiga. Caso ocorreu em Criciúma. Aluna posta vídeo com ofensas racistas após jogo de vôlei entre escolas de SC
As alunas de um colégio privado que gravaram vídeo em que aparecem fazendo ofensas racistas contra estudantes de outra escola em Criciúma, no Sul de Santa Catarina, precisaram deixar a instituição que estudavam após decisão da unidade de ensino.
O Colégio Michel informou, nesta quarta-feira (20), que optou pela rescisão de contrato de ambas. A instituição já havia divulgado uma nota de repúdio sobre o caso (leia na íntegra abaixo).
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A filmagem feita durante um amistoso de vôlei foi publicada na segunda-feira (11), e chegou até as vítimas através de um aplicativo de mensagens apenas na noite da última quinta (14).
No vídeo publicado, a aluna do colégio particular mostra os estudantes da outra instituição. Em seguida, filma a si mesma rindo e diz:
"Pessoal do amistoso tão [sic] tipo pulando [risos]. Já são preto [sic], ainda ficam fazendo macaquices? Aí não, né? Aí não". Ela mostra também uma outra estudante sentada do lado dela, que também está rindo.
A imagem do vídeo foi borrada e as vozes distorcidas pelo g1 pelo fato de as alunas serem menores de idade. Nas imagens originais, elas ainda aparecem com uma espécie de filtro escuro no rosto.
O delegado Fernando Possamai informou que instaurou um auto de apuração de ato infracional por injúria racial nesta semana.
"Temos 30 dias para oitivas das testemunhas e alunas, e, posteriormente, encaminharemos para o judiciário para procedimento em juízo", informou.
Repercussão
O pai de uma das vítimas, que não será identificado pelo g1 para não a expor, classificou o caso como "lamentável, triste e revoltante" e disse que a família vai tomar medidas legais.
A Secretaria de Educação de Criciúma também emitiu nota de repúdio, dizendo que presta "apoio psicológico aos estudantes e familiares" (veja a íntegra no final da reportagem). Declarou ainda que orientou os pais das vítimas a fazerem boletim de ocorrência.
Em nota, o escritório Becker Advogados Associados, que representa as famílias das alunas, defendeu que elas não devem ser julgadas como adultas, mas que está "trabalhando, junto à equipe pedagógica da escola, na construção das medidas socioeducativas para as crianças, pelos erros que cometeram" (leia nota completa no final da reportagem).
O que aconteceu
O pai explicou que o filho dele de 15 anos foi até o colégio para participar de um jogo de vôlei. Após a partida, o jovem e outros colegas da escola pública comemoravam o desempenho quando foram filmados.
O Colégio Michel disse em nota que "adotou todas as providências disciplinares cabíveis para com suas alunas, incluindo a retratação formal junto às alunas que foram ofendidas".
Não foram divulgadas informações sobre como foi feita a retratação ou se o colégio tomará alguma outra medida relacionada ao fato de que houve um crime cometido dentro da instituição.
A lei número 7.716/1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, descreve, no segundo artigo, como crime "Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional".
O pai do estudante de 15 anos lamentou o ocorrido.
"Isso é uma coisa que é recorrente, né? Isso ainda foi bem, vamos dizer assim, bem aberto. Fora o que a gente vive no cotidiano e no dia a dia, que é esse racismo velado e estrutural, indireto".
Aluna posta vídeo com ofensas racistas após jogo de vôlei entre escolas de Criciúma
Redes sociais/ Reprodução
O que diz a defesa das alunas
O escritório Becker Advogados Associados, vem a público na condição de representante legal das crianças envolvidas no caso do Colégio Michel, informar que estamos trabalhando junto a equipe pedagogica da escola, na construção das medidas socioeducativas para as crianças, pelos erros que cometeram.
Contudo, não podemos esquecer que trata-se de duas crianças de 12 anos, que estão sendo julgadas como se adultos fossem.
Sem mitigar o fato, não se pode ouvidar sobre tudo que se trata de CRIANÇAS, que erraram e merecem a correção nas devidas proporções, mas sem esquecer que são CRIANÇAS.
Assim mantemos o compromisso, de garantir que no núcleo familiar e escolar, as crianças devam desenvolver atividades de estudo, trabalhos, palestras para combater o preconceito racial, para que possam tirar lições para suas vidas e multiplicar o aprendizado da importância de uma sociedade justa e igual, livre de todos os tipos de preconceitos
O que diz o colégio
Confira abaixo a nota na íntegra do colégio.
O Colégio Michel, como instituição educacional protetora dos direitos das crianças e adolescentes, que tem como missão “educar com amor para o desenvolvimento integral do ser humano” e como princípio pedagógico “educar para a vida, fazendo com que o estudante se desenvolva em todos os sentidos”, vem a público manifestar seu total repúdio ao lamentável fato ocorrido na data de 11 de novembro de 2024, que envolveu duas de suas estudantes, em um amistoso de voleibol com alunos de outra instituição.
Na ocasião, após o amistoso, uma das alunas envolvidas postou, em sua rede social, um vídeo discriminatório contra alunas da outra escola, proferindo palavras de cunho injurioso e racista.
Tão logo tomou conhecimento do fato ocorrido, o Colégio Michel adotou todas as providências disciplinares cabíveis para com suas alunas, incluindo a retratação formal junto às alunas que foram ofendidas.
Destaca-se que, muito embora, a retratação seja o mínimo a ser feito sobre o caso, ela não resolve o problema dos atos discriminatórios proferidos a quem quer que seja.
É inaceitável que, até os dias atuais, existam casos como o ocorrido. Infelizmente, inferiorizar o outro por conta da cor de sua pele ainda é caso recorrente em nosso país. Assim, o Colégio Michel entende que, não basta apenas punir, mas – e principalmente – conscientizar e educar para que essas situações não mais ocorram.
A escola explora, cotidianamente o assunto a seus alunos, responsáveis e colaboradores, por intermédio de palestras e inserção do tema em suas práticas pedagógicas diárias, reafirmando seu compromisso com uma sociedade livre do preconceito.
Direção Escolar
O que diz a Secretaria de Educação de Criciúma
Veja na íntegra a nota da secretaria.
A Secretaria Municipal de Educação de Criciúma manifesta seu repúdio aos atos discriminatórios ocorridos em 11 de novembro de 2024, durante partida amistosa de voleibol envolvendo alunos da EMEB Maria de Lourdes Carneiro.
O município está adotando medidas imediatas, incluindo apoio psicológico aos estudantes e familiares, bem como a assistência da Coordenadoria da Promoção da Igualdade Racial do Município de Criciúma (COPIRC).
Racismo é crime, e a Secretaria de Educação reafirma seu compromisso com a construção de um ambiente escolar seguro, acolhedor e livre de discriminações por meio do Programa de Diversidade étnico-racial. Repudiamos veementemente qualquer ato discriminatório que fere a dignidade de nossas crianças e adolescentes.
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